Identificatie
referentie code
PT AMTVD MOR/41
Titel
Certidões de recebimento, por parte do prior da Igreja de São Pedro, de dinheiro entregue por Dom João Soares de Alarcão, comendador da Igreja de São Pedro
Datum(s)
- 1633 - 1637 (Vervaardig)
Beschrijvingsniveau
Unidade de instalação
Omvang en medium
1 cap.
Context
Naam van de archiefvormer
Biografie
A casa de Torres Vedras, fundada pelo Dr. Gomes Martins de Alvarenga, alto funcionário da Corte de D. João I, e por sua mulher D. Catarina Teixeira, camareira-mor da infanta D. Isabel de Avis, atingiu com Rui Gomes de Alvarenga, seu filho, uma importância e prestígio que perduraram para além de 1641, ano em que ocorreu uma interrupção na continuidade da casa em Portugal. Apesar da origem social dos avós de Rui Gomes de Alvarenga ser bastante controversa, certo é que já seus pais haviam singrado na corte joanina, num contexto político e social em que os homens formados em Leis tinham sido chamados a ocupar importantes ofícios na burocracia régia, recebendo as mercês e privilégios correspondentes que, com frequência, se estendiam aos familiares mais próximos, à semelhança do que acontecia com a nobreza tradicional. Foi neste novo quadro político e social que os pais do Dr. Rui Gomes de Alvarenga iniciaram a construção de uma casa e linhagem, usando como suporte económico os bens acumulados na vila e termo de Torres Vedras, donde provinham. Deste modo, acrescentaram ao estatuto social alcançado por via dos serviços prestados à Coroa, os elementos tradicionalmente atribuídos à nobreza de sangue, de modo a garantir um futuro mais sólido, para si e para os seus. Apesar de precocemente órfão de pai, Rui Gomes seguiu o seu exemplo, adquirindo uma formação académica altamente qualificada numa Universidade estrangeira, sob a proteção de um infante de Avis, o que lhe proporcionou a entrada no alto funcionalismo régio, com o grau de Doutor em Direito Civil e um grande gosto pelo saber. A partir daí a sua trajetória na Corte de D. Afonso V foi brilhante, tendo atingido os mais altos cargos, desde desembargador das Petições até presidente da Casa da Suplicação e chanceler-mor do Reino, cargo que exerceu de 1463 até ao final da sua vida em 1475. Porém, não se limitou à burocracia, uma vez que foi também embaixador, militar e conselheiro pessoal de D. Afonso V, que tinha por ele grande estima e consideração, procurando os seus conselhos, até para assuntos do foro mais privado. A par da carreira de sucesso ao serviço da Coroa, observou-se que o Dr. Rui Gomes de Alvarenga procurou dar continuidade ao projeto familiar de aumento do património e engrandecimento da casa. Para tal adotou para si e para os seus filhos estratégias de promoção social que passaram pelo estabelecimento de laços de parentesco, por via do matrimónio com famílias de linhagem antiga que, durante longos anos, estiveram junto do poder régio e dele receberam mercês e privilégios. Deste modo, reforçou a sua influência na Corte, garantindo ofícios para os seus criados e lugares de prestígio para os seus descendentes. Por outro lado, continuou a política aquisitiva dos seus progenitores, com a compra de inúmeras propriedades que juntou à herança recebida e às doações régias com que foi beneficiado ao longo da sua carreira.
Dotado de um estatuto social equivalente ao da nobreza antiga, graças à sua brilhante carreira na administração régia, senhor de um património fundiário considerável e de uma rede clientelar favorável aos seus interesses, sem esquecer a relação privilegiada que mantinha com o monarca, o Dr. Rui Gomes de Alvarenga não descurou outras características identificadoras do prestígio de uma casa e de uma linhagem. Com efeito, fundou uma capela tumular na Igreja da Graça de Lisboa e vinculou os bens patrimoniais, instituindo, à data da feitura do seu testamento, o morgadio de Torres Vedras, confiando ao seu filho primogénito o cumprimento da sua última vontade. Coube então ao seu sucessor, Gomes Soares de Melo, garantir à descendência a posição alcançada por seu pai no seio da nobreza cortesã, acrescentando à casa mais um ofício de prestígio, o de alcaide-mor de Torres Vedras, e promovendo o casamento da sua única herdeira, D. Margarida Soares de Melo, com D. João de Alarcão, membro da nobreza antiga castelhana, filho da camareira-mor da rainha D. Maria de Castela, mulher de D. Manuel I, e figura muito próxima de D. João III. Esta estratégia matrimonial, pese embora a mudança de varonia, garantiu a continuidade da linhagem, do património e da alcaidaria-mor de Torres Vedras nas mãos dos seus sucessores, até 1641. E apesar do período menos favorável por que passou a casa de Torres Vedras, em consequência das opções políticas do alcaide-mor D. João Soares de Alarcão e Melo (III) contra a nova dinastia no poder e que conduziu à confiscação de todos os bens, cerca de três décadas e meia depois, muitos desses bens regressaram à família, por via da descendência de D. Jerónima de Castro, irmã mais velha do último alcaide-mor da família. Invocando as cláusulas da instituição do morgadio de Torres Vedras pelo Dr. Rui Gomes de Alvarenga, seu 8.º avô materno, D. António de Almeida, 2. ° conde de Avintes, tornou-se legítimo administrador dos bens vinculados de Torres Vedras, Alenquer e Val de Cavalos, após um complicado e moroso processo judicial que terminou com a publicação da sentença a seu favor, em maio de 1677. Ao longo dos tempos, outros bens da antiga casa de Torres Vedras foram sendo incorporados no património da casa de Avintes-Lavradio, frequentemente em consequência da falta de sucessão dos seus parentes e das estratégias matrimoniais de caraterísticas acentuadamente endogâmicas. A integração dos bens resgatados da casa de Torres Vedras na casa de Avintes-Lavradio não significou apenas o reforço patrimonial de uma casa aristocrática ainda em fase de construção. Acrescentou-lhe, também, o prestígio alcançado pelos seus antepassados maternos durante três séculos de serviço ao reino, que a traição de um seu representante não conseguiu apagar. Embora num tempo e contexto político diferentes, também a casa de Avintes conheceu uma trajetória de ascensão no seio da aristocracia portuguesa dos séculos XVII e XVIII. Graças ao serviço real, D. Luís de Almeida, senhor de Avintes, alcançou a titularidade condal. Os bons serviços prestados pelos seus descendentes proporcionaram a ascensão da casa ao marquesado e ao grupo restrito dos Grandes. A ligação dos Avintes ao seu património torriense iniciou-se logo quando D. António de Almeida assumiu a administração do morgadio e se instalou com família na sua quinta do Amo ou da Conceição, na freguesia de Dois Portos. A partir de então, não mais os seus sucessores abandonaram os laços que os prendiam a Torres Vedras. Com mais ou menos frequência, habitaram a sua quinta, tendo nela nascido, vivido e morrido alguns dos membros mais destacados da família. Nela viveu D. Tomás de Almeida, futuro patriarca de Lisboa; nela nasceu D. Luís de Almeida, 11.º vice-rei do Brasil; nela se refugiaram os últimos administradores, desgostosos com o crónico endividamento da casa e com os atribulados acontecimentos políticos que atravessaram o século XIX português. Os Alvarengas de Torres Vedras conseguiram afirmar o seu estatuto na sociedade portuguesa do século XV — alcançado sobretudo graças aos seus conhecimentos técnicos —, com a fundação de uma casa e linhagem, associando-lhe todos os elementos tradicionalmente atribuídos à nobreza de sangue, de modo a legitimá-la e a garantir a sua continuidade e prestígio, uma vez que a ascendência familiar, aparentemente, não lhe proporcionava essa garantia. E, apesar dos constrangimentos que percorreram a casa em meados do século XVII e em grande parte do século XIX, parte do património material e, certamente, o património simbólico da casa de Torres Vedras foi preservado através da casa de Avintes -Lavradio, pelo menos até à extinção dos morgadios em Portugal. (informação retirada do livro "A Casa de Torres Vedras: de Rui Gomes de Alvarenga aos Marqueses do Lavradio - séculos XV - XIX", da autoria de Maria Natália Silva).
Dotado de um estatuto social equivalente ao da nobreza antiga, graças à sua brilhante carreira na administração régia, senhor de um património fundiário considerável e de uma rede clientelar favorável aos seus interesses, sem esquecer a relação privilegiada que mantinha com o monarca, o Dr. Rui Gomes de Alvarenga não descurou outras características identificadoras do prestígio de uma casa e de uma linhagem. Com efeito, fundou uma capela tumular na Igreja da Graça de Lisboa e vinculou os bens patrimoniais, instituindo, à data da feitura do seu testamento, o morgadio de Torres Vedras, confiando ao seu filho primogénito o cumprimento da sua última vontade. Coube então ao seu sucessor, Gomes Soares de Melo, garantir à descendência a posição alcançada por seu pai no seio da nobreza cortesã, acrescentando à casa mais um ofício de prestígio, o de alcaide-mor de Torres Vedras, e promovendo o casamento da sua única herdeira, D. Margarida Soares de Melo, com D. João de Alarcão, membro da nobreza antiga castelhana, filho da camareira-mor da rainha D. Maria de Castela, mulher de D. Manuel I, e figura muito próxima de D. João III. Esta estratégia matrimonial, pese embora a mudança de varonia, garantiu a continuidade da linhagem, do património e da alcaidaria-mor de Torres Vedras nas mãos dos seus sucessores, até 1641. E apesar do período menos favorável por que passou a casa de Torres Vedras, em consequência das opções políticas do alcaide-mor D. João Soares de Alarcão e Melo (III) contra a nova dinastia no poder e que conduziu à confiscação de todos os bens, cerca de três décadas e meia depois, muitos desses bens regressaram à família, por via da descendência de D. Jerónima de Castro, irmã mais velha do último alcaide-mor da família. Invocando as cláusulas da instituição do morgadio de Torres Vedras pelo Dr. Rui Gomes de Alvarenga, seu 8.º avô materno, D. António de Almeida, 2. ° conde de Avintes, tornou-se legítimo administrador dos bens vinculados de Torres Vedras, Alenquer e Val de Cavalos, após um complicado e moroso processo judicial que terminou com a publicação da sentença a seu favor, em maio de 1677. Ao longo dos tempos, outros bens da antiga casa de Torres Vedras foram sendo incorporados no património da casa de Avintes-Lavradio, frequentemente em consequência da falta de sucessão dos seus parentes e das estratégias matrimoniais de caraterísticas acentuadamente endogâmicas. A integração dos bens resgatados da casa de Torres Vedras na casa de Avintes-Lavradio não significou apenas o reforço patrimonial de uma casa aristocrática ainda em fase de construção. Acrescentou-lhe, também, o prestígio alcançado pelos seus antepassados maternos durante três séculos de serviço ao reino, que a traição de um seu representante não conseguiu apagar. Embora num tempo e contexto político diferentes, também a casa de Avintes conheceu uma trajetória de ascensão no seio da aristocracia portuguesa dos séculos XVII e XVIII. Graças ao serviço real, D. Luís de Almeida, senhor de Avintes, alcançou a titularidade condal. Os bons serviços prestados pelos seus descendentes proporcionaram a ascensão da casa ao marquesado e ao grupo restrito dos Grandes. A ligação dos Avintes ao seu património torriense iniciou-se logo quando D. António de Almeida assumiu a administração do morgadio e se instalou com família na sua quinta do Amo ou da Conceição, na freguesia de Dois Portos. A partir de então, não mais os seus sucessores abandonaram os laços que os prendiam a Torres Vedras. Com mais ou menos frequência, habitaram a sua quinta, tendo nela nascido, vivido e morrido alguns dos membros mais destacados da família. Nela viveu D. Tomás de Almeida, futuro patriarca de Lisboa; nela nasceu D. Luís de Almeida, 11.º vice-rei do Brasil; nela se refugiaram os últimos administradores, desgostosos com o crónico endividamento da casa e com os atribulados acontecimentos políticos que atravessaram o século XIX português. Os Alvarengas de Torres Vedras conseguiram afirmar o seu estatuto na sociedade portuguesa do século XV — alcançado sobretudo graças aos seus conhecimentos técnicos —, com a fundação de uma casa e linhagem, associando-lhe todos os elementos tradicionalmente atribuídos à nobreza de sangue, de modo a legitimá-la e a garantir a sua continuidade e prestígio, uma vez que a ascendência familiar, aparentemente, não lhe proporcionava essa garantia. E, apesar dos constrangimentos que percorreram a casa em meados do século XVII e em grande parte do século XIX, parte do património material e, certamente, o património simbólico da casa de Torres Vedras foi preservado através da casa de Avintes -Lavradio, pelo menos até à extinção dos morgadios em Portugal. (informação retirada do livro "A Casa de Torres Vedras: de Rui Gomes de Alvarenga aos Marqueses do Lavradio - séculos XV - XIX", da autoria de Maria Natália Silva).
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Contém certidões de recebimento, por parte do prior da Igreja de São Pedro, de dinheiro entregue por Dom João Soares de Alarcão, comendador da Igreja de São Pedro.
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Naam ontsluitingsterm
- Morgadio de Torres Vedras (Archiefvormer)
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Descrição elaborada com base nas ISAD(G) (2.ª ed.; 1999) e ISAAR(CPF) (2.ª ed.; 2003)
Status
Finale
Niveau van detaillering
Gedeeltelijk
Verwijdering van datering archiefvorming
2022-04-04
Taal (talen)
Schrift(en)
Bronnen
Aantekeningen van de archivaris
Descrição elaborada por Paula Correia da Silva.